terça-feira, 8 de janeiro de 2013

300 de Esparta


Batalha de Termópilas - Os 300 de Esparta 

A Batalha das Termópilas foi travada no contexto da Segunda Guerra Médica entre uma aliança de pólis gregas liderados pelo Rei Leônidas de Esparta e o Império persa de Xerxes I. A batalha durou três dias e se desenrolou no desfiladeiro das Termópilas ('Portões Quentes') em agosto ou setembro de 480 a.C. Ao mesmo tempo ocorreu a Batalha de Artemísio.
A invasão persa foi uma resposta tardia à Primeira Guerra Médica, que havia terminado com a vitoria de Atenas na Batalha de Maratona. Xerxes reuniu um vasto exército e uma marinha para conquistar toda a Grécia e, em resposta à iminente invasão, o general ateniense Temístocles propôs que os aliados gregos bloqueassem o avanço do exército persa no desfiladeiro das Termópilas, enquanto bloqueavam o avanço da marinha persa no estreito de Artemísio.
Um exército aliado formado por aproximadamente 7000 homens marchou ao norte para bloquear a passagem no verão de 480 a.C. O exército persa, que, segundo estimativas modernas seria composto por 300 000 homens, chegou a passagem no final de agosto ou início de setembro. Em um número bem menor, os gregos detiveram o avanço persa durante sete dias no total (incluindo três de batalha). Durante dois dias repletos de batalha uma pequena força liderada pelo Rei Leônidas I de sparta bloquearam a única maneira que o imenso exército persa poderia usar para entrar na Grécia. Após o segundo dia de batalha, um residente local chamado Efialtes traiu os gregos, mostrando aos invasores um pequeno caminho que podiam utilizar para acessar a parte traseira das linhas gregas. Sabendo que suas linhas seriam ultrapassadas, Leônidas descartou a maior parte do exército grego, permanecendo para proteger a sua retirada, juntamente com 300 espartanos, 700 téspios, 400 tebanos e talvez algumas centenas de soldados, porém a maioria dos quais morreram em batalha.
Após o confronto, a marinha dos aliados em Artemísio recebeu a notícia da derrota nas Termópilas. Uma vez que sua estratégia requeria manter tanto Termópilas como Artemísio, o exército aliado decidiu retirar-se para Salamina. Os persas cruzaram Beócia e capturaram a cidade de Atenas, que previamente havia sido evacuada. No entanto, buscando uma vitória decisiva sobre a frota persa, o exercito aliado atacou e derrotou os invasores na Batalha de Salamina no final do ano. Temendo ser preso na Europa, Xerxes se retirou com a maior parte de seu exército para a Ásia, deixando o general Mardónio no comando do exército restante para completar a conquista da Grécia. Entretanto, no ano seguinte, os aliados conseguiram uma vitória decisiva na Batalha de Plateias, acabando com a invasão persa.
Escritores antigos e modernos têm utilizado a Batalha das Termópilas como um exemplo do poder que um exército patriótico pode exercer defendendo seu próprio solo com um pequeno grupo de combatentes. O comportamento dos defensores na batalha também é usado como um exemplo nas vantagens do treinamento, do equipamento e bom uso da terra como multiplicadores de força de um exército, tornando-se um símbolo de coragem contra as adversidades.
A principal fonte primária em relação às Guerras Médicas é o historiador grego Heródoto. Este autor, que tem sido chamado de "O Pai da História", nasceu no ano de 484 a.C. em Halicarnasso, na Ásia Menor (uma área governada pelo Império Persa). Escreveu sua obra Histórias entre 440 e 430 a.C., tentando encontrar as origens das Guerras Médicas, que era ainda uma história relativamente recente (as guerra terminaram em 449 a.C.). O foco de Heródoto foi uma completa novidade, pelo menos na sociedade ocidental, e por esta razão considera-se que inventou a história como a conhecemos hoje. O historiador siciliano Diodoro Sículo, que escreveu no século I a.C. sua obra Biblioteca Histórica, onde também oferece um relato sobre as Guerras Médicas, se baseou parcialmente no historiador grego Éforo de Cime. No entanto, seu relato é bastante consistente em comparação com a de Heródoto. Além disso, as Guerras Médicas também recebem atenção, com menos detalhes, de outros historiadores antigos, incluindo Plutarco e Ctésias de Cnido e também aparecem outras obras de outros autores, como Os Persas do dramaturgo Ésquilo. Evidências arqueológicas, tais como a Coluna da Serpente, também oferecem suporte para algumas das afirmações específicas de Heródoto.
Contexto histórico
As cidades-estado de Atenas e Erétria apoiaram a revolta jônica contra o Império Persa de Dario I, que ocorreu entre 499 e 494 a.C. Naquela época, o Império Persa ainda era relativamente jovem e, portanto, mais propenso a revoltas entre os seus súditos. Além disso, Dario era um usurpador, e com isso assumiu a necessidade de extinguir uma série de revoltas contra ele.
Portanto, a revolta jônica não era uma questão menor, mas uma ameaça real à integridade do império, e por esse motivo Dario prometeu punir não só os jônicos, mas também todos aqueles que estiveram envolvidos na rebelião (especialmente os povos que não faziam parte do império). Dario viu uma oportunidade de expandir seu império no turbulento mundo da Grécia Antiga. Ele então, enviou uma expedição preliminar sob o comando do general Mardónio em 492 a.C., para garantir a abordagem à terra grega e reconquistou Trácia obrigando o reino da Macedônia a se tornar um vassalo Pérsa.
Em 491 a.C. Dario enviou emissários a todas as cidades-estado gregas, solicitando a entrega 'da água e da terra' como um símbolo de sua submissão a ele. Após a demonstração do poder persa no ano anterior, a maioria das cidades gregas se renderam. No entanto, em Atenas, os embaixadores persas foram executados e jogados em um poço para receber 'terra'; em Esparta, simplesmente foram jogados em um poço para receber 'água'. Isto provocou que Esparta também estava, oficialmente, em guerra com a Persia.
Dario começou a montar em 490 a.C. uma força-tarefa sob o comando de Datis e Artafernes, que atacaram Naxos antes de receberem submissão das Cíclades. A força invasora, em seguida, mudou-se para Erétria, uma cidade da ilha de Eubeia, que foi cercada e destruída. Finalmente, se dirigiram a Atenas e desembargaram na baía de Maratona onde foram recebidos por um exército ateniense em menor número. Entretanto, no confronto entre os dois exércitos na Batalha de Maratona, os atenienses obtiveram uma vitória decisiva que levou à retirada do exército persa à Asia.
Dario, portanto, começou a recrutar um novo e imenso exército com o qual ele pretendia subjugar completamente a Grécia. No entanto, seus planos foram interrompidos quando, em 486 a.C., houve uma revolta no Egito e obrigou a adiar indefinidamente as expedições à Grecia.[12] Em seguida, Dario, morreu enquanto se preparava para marchar ao Egito, e o trono da Pérsia passou ao seu filho Xerxes I. Xerxes esmagou a revolta egípcia, e rapidamente reiniciou os preparativos para a invasão da Grécia. Sendo uma invasão em larga escala, necessitava de um longo prazo de planejamento para acumular suprimentos necessários que permitisse recrutar, equipar e treinar os soldados.
Xerxes decidiu construir pontes sobre o Helesponto para permitir que seu exército atravessasse da Ásia para à Europa, e cavar um canal através do istmo do Monte Atos para que seus navios atravessassem (uma frota persa foi destruída em 492 a.C. enquanto rodeava essa passagem). Essas obras foram operações altamente ambiciosas que estavam fora do âmbito de qualquer outro estado contemporáneo. Finalmente, no início da década de 480 a.C., foram concluídos os preparativos para a invasão, e o exército que Xerxes havia reunido em Sardes marchava em direção à Europa, atravessando o Helesponto em duas pontes flutuantes.
Os atenienses, por sua vez, também haviam se preparando para enfrentar uma guerra contra a Pérsia desde meados da década de 480 a.C. Por fim em 482 a.C. uma decisão foi tomada, sob a orientação do estadista ateniense Temístocles, de construir uma enorme frota de trirreme, essencial para que os gregos pudessem enfrentar os persas. No entanto, os atenienses não tinham capacidade e a população suficiente para enfrentar o inimigo ao mesmo tempo em terra e no mar, e portanto, combater os persas exigiria uma aliança de cidades-estado gregas. Em 481 a.C. o imperador Xerxes enviou embaixadores ao redor da Grécia solicitando de novo terra e água, mas excluindo propositadamente Atenas e Esparta.
Entretanto, algumas cidades foram alinhadas em torno desses dois estados principais, para que houvesse um congresso de pólis em Corinto no final do outono de 481 a.C., que formou uma confederação aliada de cidades-estado. Esta confederação tinha o poder de enviar emissários pedindo ajuda e ao envio de tropas dos estados membros para os pontos de defesa após uma consulta conjunta. Este fato em si foi de grande importância tendo em vista a desunião que historicamente havia existido entre as cidades-estado, especialmente porque muitas delas estavam tecnicamente ainda em guerra umas com as outras.
A confederação voltou a se encontrar na primavera de 480 a.C. Uma delegação da Tessália sugeriu que os aliados poderiam se reunir no estreito Vale de Tempe, na fronteira da Tessália, para bloquear o avanço de Xerxes. Foi enviada uma força de 10.000 hoplitas para o vale, através do qual eles acreditavam que o exército persa teria de passar. No entanto, uma vez lá foram avisados por Alexandre I da Macedônia, que o vale poderia ser atravessado e rodeado pela passagem de Sarantoporo, uma vez que o exército persa era de tamanho imenso, os gregos se retiraram. Pouco depois, receberam a notícia de que Xerxes havia atravessado o Helesponto.
Temístocles sugeriu então uma segunda estratégia para os aliados. A rota ao sul da Grécia (Beócia, Ática Peloponeso) exigiria que o exército de Xerxes atravessasse a passagem muito estreita das Termópilas. Esta passagem poderia ser facilmente bloqueada pelos hoplitas gregos, apesar do esmagador número de soldados persas.
Além disso, para evitar que os persas alcançassem Atenas pelo mar, os navios atenienses e dos aliados poderiam bloquear o estreito de Artemisio. Esta estratégia dupla foi finalmente aceita pela confederação. No entanto, as cidades de Peloponeso prepararam planos para defender o Istmo de Corinto, caso necessário, enquanto as mulheres e crianças de Atenas foram evacuadas em massa para a cidade peloponésia de Trezena.
Parece que o exército persa se moveu em um ritmo um pouco mais lento na Trácia e Macedónia, mas finalmente, em agosto, a notícia da chegada iminente dos persas alcançou à Grecia graças a um espião grego. Naquela época os espartanos, líderes militares de fato da aliança, estavam comemorando o festival religioso de Carneia. Durante este festival a atividade militar estava proibida por lei espartana e, de fato, os espartanos não chegaram a tempo na Batalha de Maratona por causa desta exigência.
Também estavam comemorando os Jogos Olímpicos, e devido à trégua em vigor durante o evento teria sido um duplo sacrílego para os espartanos marcharem em sua totalidade a guerra. Entretanto, nesta ocasião, os éforos decidiram que a urgência era suficientemente importante para justificar o envio de uma expedição com antecedência para bloquear a passagem; expedição que seria liderada por um dos dois reis de Esparta, Leônidas I. Leônidas levou consigo 300 homens da guarda real, os hippeis e um número maior de tropas de apoio de outras partes da Lacônia (incluindo Hilotas). A expedição deveria tentar agrupar o maior numero possível de aliados ao longo do caminho e aguardar a chegada do exército espartano principal.
A lenda das Termópilas, tal como relatada por Heródoto, diz que os espartanos consultaram o Oráculo de Delfos no início do ano sobre o resultado da guerra. Foi dito que o Oráculo determinou a seguinte profecia:
Ouçam seu destino, ó moradores de Esparta!
Ou a sua famosa e grande cidade deve ser saqueada pelos filhos de Perseus,
Ou, em troca, toda a terra da Lacônia
Irá lamentar a morte de um rei, descendente do grande Heracles.
Heródoto diz que Leônidas, de acordo com a profecia, estava convencido de que estava indo para a morte certa pois suas forças não eram suficientes para uma vitória e assim escolheu como soldados apenas espartanos com filhos vivos.
No caminho para Termópilas o exército espartano foi reforçado por contingentes de várias cidades, atingindo um valor de mais de 7.000 soldados no momento em que chegaram a seu destino. Leônidas escolheu acampar e defender a parte mais estreita da passagem das Termópilas, em um lugar onde os habitantes da Fócida haviam construído uma muralha defensiva algum tempo atrás. Também chegaram notícias a Leonidas, da cidade vizinha de Traquínia, onde havia um caminho montanhoso que poderia ser utilizado para rodear o desfiladeiro das Termópilas. Em resposta, Leônidas enviou 1.000 soldados focídios para se estabecer nas alturas para evitar tal manobra.
Finalmente o exército persa foi visto cruzando o Golfo de Mália e se aproximando das Termópilas em meados de agosto. Antes desse fato os aliados realizaram um conselho de guerra em que alguns peloponésios sugeriram a retirada para o istmo de Corinto para bloquear a passagem para Peloponeso. No entanto, os habitantes da Fócida Lócrida, regiões perto das Termópilas, ficaram indignados com a sugestão, e aconselharam defender a passagem, e enviar emissários para pedir mais ajuda. Leonidas se mostrou de acordo em defender as Termópilas.
Xerxes enviou um emissário para negociar com Leonidas. Ofereceu aos aliados sua liberdade e o título de "Amigos do Povo Persa", indicando que seriam assentados em terras mais férteis que ocupavam no momento. Quando Leonidas recusou os termos, o embaixador voltou a solicitar que depusessem as armas, para o qual Leonidas respondeu com a famosa frase "Venham buscá-las" . Quando Leônidas se recusou a retroceder, o mensageiro lhe disse: "Nossas flechas serão tão numerosas que irão tapar a luz do sol". Para isso, Leônidas respondeu: "Tanto melhor, combateremos à sombra!". O fracasso da negociação tornou a batalha inevitável. No entanto, Xerxes atrasou o ataque por quatro dias, esperando que os aliados se desesperassem por si mesmo diante da grande diferença de tamanho entre os dois exércitos, até que finalmente decidiu atacar.
Considerações estratégicas e táticas
Numa perspectiva estratégica, defendendo as Termópilas, os gregos estavam fazendo o melhor uso possível de suas forças. Enquanto poderiam evitar mais avanço persa à Grécia, não teriam necessidade de buscar uma batalha decisiva, e poderiam simplesmente permanecer na defensiva. Além disso, com a defesa de duas passagens estreitas como Termópilas e Artemisio, a inferioridade numérica dos aliados era menos problemática. Por outro lado, os persas enfrentavam o problema de abastecimento de um exército tão grande, o que significava que não podiam permanecer em um mesmo lugar por muito tempo. Os persas, portanto, se viram obrigados a recuar ou avançar, e avançar implicava atravesar as Termópilas.
Taticamente, o desfiladeiro das Termópilas era ideal para o tipo de luta do exército grego. Uma falange hoplita poderia ser capaz de bloquear a passagem estreita com facilidade e, tendo flancos cobertos, não foi ameaçada pela cavalaria inimiga. Nestas circunstâncias, a falange seria um inimigo muito difícil de ser superado pela infantaria persa levemente armada.
Por outro lado, o principal ponto fraco que oferecia o campo de batalha escolhido pelos aliados era uma pequena passagem montanhosa que transcorria para as Termópilas, e que permitia que o exército fosse ultrapassado pelo lado e, portanto, rodeado. Embora provavelmente este lado não fosse viável para a cavalaria, a infantaria poderia atravessá-lo facilmente (especialmente quando muitos dos soldados persas estavam familiarizados com a luta em terreno montanhoso). Leônidas estava ciente da existência desta passagem graças ao aviso dos habitantes de Traquinia, e assim colocou um destacamento de soldados fócios a fim de bloquear esta rota.

Topografia do campo de batalha


A época da batalha, o desfiladeiro das Termópilas consistia em uma passagem ao longo da costa do Golfo de Mália tão estreito que dois carros não podiam atravessá-lo ao mesmo tempo.Limitado ao sul por falésias de grande porte, enquanto a norte se encontrava o Golfo de Mália. Ao longo do caminho, havia três passagens estreitas ou "portas" (pylai) e na porta central foi erguida um muralha que havia sido construída pelos focidios no século anterior para se defender contra invasões provenientes da Tessália. O lugar recebeu o nome de "Portões Quentes" devido as fontes de águas quentes que se podiam encontrar nesse lugar.
Hoje, o desfiladeiro não se encontra próximo ao mar, mas está a vários quilômetros para o interior, devido a sedimentação que vem ocorrendo no Golfo de Mália. O velho caminho se encontra no pé das colinas ao redor da planície, ladeada por uma rodovia moderna. Entretanto, amostras recentes da composição do solo indicam que à epoca o desfiladeiro tinha apenas 100 metros de largura e que a água alcançava o nível das portas.Por outro lado, a passagem continua sendo utilizada como posição defensiva natural por exércitos modernos, como por exemplo durante a Batalha das Termópilas de 1941, em que soldados britânicos defenderam a passagem contra a Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
Durante quatro dias, Xerxes aguardou em vão que os Gregos dessem luta aos seus homens, mas como tal não se verificasse decidiu ele mesmo atacar, à madrugada do quinto dia; os seus homens, armados somente com um pequeno escudo e uma lança de menores dimensões que a dos hoplitas gregos (cujo armamento – elmo, couraça, escudo,grevas, lança e uma pequena espada – lhes dava, nesta fase do confronto, uma superioridade decisiva), ao tentarem penetrar no desfiladeiro, viram-se completamente rechaçados, pois as falanges gregas facilmente destruíam as suas lanças e, desarmando-os dessa forma, fácil foi chaciná-los em seguida.
Xerxes, que observava o espectáculo, teria dito, segundo Heródoto, ter «muitos homens, mas poucos soldados». De fato, embora Xerxes dispusesse da superioridade numérica, as condições físicas do estreito impediam-no de tirar partido dessa vantagem (designadamente, pela impossibilidade de fazer aí atacar a sua célebre cavalaria).
Mesmo quando Xerxes ordenou que os archeiros medos disparassem, os longos escudos dos Gregos protegeram-nos das flechas; é nesse contexto que Plutarco (nos seus Apótegmas dos Espartanos) atribui a Leónidas uma célebre afirmação, em resposta a um soldado que dissera que as flechas dos Medos tapavam o Sol: «Melhor, pois se os Medos taparem o Sol, combateremos à sombra» (Heródoto, porém, reporta esta afirmação a um tal Dieneces, tido como um dos mais bravos soldados de Esparta presentes neste prélio).
Plutarco afirma ainda que Xerxes procurou evitar o combate por todos os meios, tendo enviado cartas ao rei espartano, dizendo-lhe que lhe atribuiria o governo da satrapia da Grécia se este depusesse as armas e se passasse para o lado persa, ao que Leónidas teria respondido, muito laconicamente – como era característico dos Lacedemónios – «Vinde buscá-las!».
Como estas estratégias não davam resultados, Xerxes ordenou enfim que avançassem os 10 000 Imortais, comandados por Hidarnes. Tratava-se do corpo de élite da infantaria persa, o qual, de acordo com a tradição, devia o nome ao facto de, assim que morria um dos seus combatentes, este era imediatamente substituído, prefazendo dessa forma um total constante de dez mil, por isso mesmo tidos como «imortais». Embora mais bem treinados e equipados que o resto do exército, esta estratégia não surtiu o efeito desejado, não tendo sido capazes de amover os Gregos da sua posição no interior do estreito. Inclusive, o rei, sentado em seu trono no alto da colina, viu morrer um irmão seu no confronto.
Ao sexto dia, o rei persa, julgando que o cansaço tivesse domado os seus oponentes, resolveu voltar a atacar; ludibriou-se, porém, e não colheu melhores frutos que no dia anterior.
Foi então que apareceu, no acampamento persa, Efialtes de Mális, nome que tem ecoado pelos séculos fora como sinônimo de traidor. Dirigira-se ao Rei de Reis na vã esperança de obter uma compensação pecuniária a troco de revelar um caminho secreto que conduzia à retaguarda das Termópilas (onde se achavam os Fócios), através da montanha. Xerxes ficou entusiasmado com as novidades, convocando Hidarnes e ordenando que os Imortais percorressem o dito caminho durante a noite, para poderem atacar os Gregos logo pela madrugada.
De facto, os Fócios, que guardavam a retaguarda do estreito, só se aperceberam do avanço do inimigo quando já era tarde demais, tendo abandonado a sua posição diante do ataque dos arqueiros Medos.
Entretanto, no interior do desfiladeiro, no acampamento dos Gregos, ultimavam-se os preparativos para aquele que viria a ser o derradeiro dia da batalha. Segundo Heródoto, um adivinho que se encontrava entre os soldados, Megístias, após analisar as entranhas dos animais sacrificados aos deuses, concluiu que a morte chegaria com a madrugada (o que seria corroborado com o aparecimento de alguns desertores fócios no acampamento).
Leónidas reuniu o conselho de guerra, tendo as opiniões dos Helenos dividido-se: uns eram a favor da retirada pura e simples, para evitar uma inevitável chacina; outros defendiam que aí deviam permanecer até ao último homem. Leónidas resolveu o problema, declarando que todos os Aliados eram livres de partir, já que não sentia neles a coragem para combater; apenas ele e os seus trezentos homens não podiam desertar, pois a isso os obrigava a Constituição de Licurgo (que declarava constituir a deserção a suprema desonra para um Espartano); se pelo contrário ali permanecessem e morressem a pelejar, o seu nome seria cumulado de glória e jamais cairia no esquecimento.
Ao mesmo tempo, esta decisão do rei deve ter sido reforçada pela chegada de um oráculo da Pitonisa de Delfos; pouco antes do começo da batalha, Leónidas mandara inquirir de Apolo quem sairia vencedor da pugna, e agora a sacerdotisa do deus respondia-lhe que um dos reis de Esparta se deveria sacrificar para que a respectiva pólis pudesse continuar de pé; se tal não sucedesse, a cidade seria reduzida a cinzas pelos Persas.
É evidente que, embora embelezem a narrativa, não há como provar a veracidade destas profecias, pelo que esta tradição poderia muito bem ter sido forjada já após a batalha; não obstante, há que ter em conta a franca popularidade de que o oráculo de Delfos desfrutou, ao longo dos séculos, no Mundo Antigo, para se poder supor que a tradição se baseia numa consulta real que Leónidas fez ao Templo de Apolo no«umbigo do Mundo».
O mais provável é que Leónidas não tenha tido tempo sequer para pensar na glória futura; compreendendo que o massacre estava iminente, dispensou a maior parte do contingente estacionado nas Termópilas, incumbindo-o agora da organização da defesa da Grécia mais a Sul, no Istmo de Corinto, enquanto os poucos que restavam nas Termópilas protegiam a sua retirada.
O último dia
Chegara finalmente a aurora do sétimo dia; os Persas haviam já contornado o desfiladeiro, ora desguarnecido pelos Fócios, e iniciam o seu ataque por ambos os lados do estreito; os Gregos, cônscios de que não havia outra saída que não fosse a morte, pareciam não a temer e, segundo as Histórias, lutavam com ainda mais afinco que nos dias anteriores, causando grandes perdas entre os invasores.
Perante este último ataque dos Bárbaros, quebradas que estavam a maior parte das lanças gregas pelos machados dos Persas, os Helenos, cercados, enfrentaram por fim o inimigo com as espadas, numa luta corpo-a-corpo, falecendo assim de modo honroso. Dessa forma caiu Leónidas, no meio dos seus soldados, os quais, de acordo com Heródoto, ao verem o seu rei perecer, logo procuraram recuperar o seu cadáver, qual troféu de guerra que importava preservar ao máximo dos ultrajes que o inimigo lhe poderia provocar.
Com efeito, quando a batalha acabou, Xerxes dirigiu-se pessoalmente ao campo onde se travara peleja, procurando pelo corpo de Leónidas – o responsável pelo seu atraso na conquista da Grécia e pelo tão elevado número de perdas entre os seus homens –, ordenando de seguida que fosse decapitado e a sua cabeça empalada (facto que ditou, de acordo com a tradição, que a alma penada de Leónidas, vagueando no Tártaro, atormentasse Xerxes nos seus sonhos para sempre, não só por não haver celebrado as suas exéquias – parte integrante do riquíssimo ritual bélico daAntiguidade – como ainda por haver profanado o seu corpo).
Mas a salvação do corpo do seu rei não foi o único problema com que os Espartanos se debateram; a sua maior dificuldade eram as deserções que continuavam a verificar-se (Heródoto cita os nomes de dois Lacedemónios que teriam sobrevivido à batalha, afirmando mesmo que um deles cometeu suicídio por não aguentar a pressão da desonra, demonstrando assim que até entre os míticos Espartanos houve deserções, e que nem todos os Trezentos teriam morrido na batalha); a maior parte delas, porém, vinha do campo dos Tebanos, os quais, a meio da batalha, se viraram para o inimigo. Se essa traição teria sido já acordada previamente, se foi fruto puro e simples das circunstâncias em que a peleja se proporcionava, ou se se trata simplesmente uma invenção de Heródoto, não se sabe. Certo é que, segundo o seu relato, Xerxes, descontente, ordenou que metade dos combatentes tebanos fosse massacrada, e a outra metade escravizada – destinando-se o castigo a punir a demora no honrar do acordo de aliança celebrado.
O desfecho da batalha parece ser, à primeira vista, uma retumbante vitória dos Persas. Mas bem observados os factos, esta vitória teve tanto de esmagadora como de pírrica.
Faleceram nas Termópilas cerca de dois mil Gregos (muito mais que os míticos trezentos Espartanos); porém, antes de caírem mortos, os Gregos infligiram um elevado número de baixas no exército persa (dezenas de milhares de homens), isto para além de reterem a sua marcha durante vários dias; os homens e o tempo perdido nas Termópilas foram cruciais para o subsequente fracasso de Xerxes, pois nesse lapso temporal possibilitou-se a evacuação da população de Atenas (cidade que será saqueada e incendiada pelos homens de Xerxes – como represália por haver sido a grande responsável pelo desfecho da I Guerra Médica) para a vizinha ilha de Salamina, bem como a concentração das forças gregas remanescentes ao longo do Istmo de Corinto.
A batalha naval do cabo Artemísion, travada ao norte da ilha de Eubeia, escassos dias após as Termópilas, redundou num empate técnico, e só nos começos de Setembro se começou enfim a esboçar a derrota do Rei de Reis: o estratego ateniense Temístocles forçou a armada persa a entrar no estreito de Salamina; aí, as pesadas embarcações persas viram-se incapazes de manobrar diante das ágeis trirremesatenienses, tendo acabado aquelas por sofrer uma copiosa derrota, o que levou Xerxes a regressar à Ásia. No ano seguinte, o golpe final é dado em Plateias, nunca mais voltando a Pérsia a tentar invadir a Grécia Continental. As hostilidades prosseguiriam, no entanto, até à assinatura da Paz de Cálias, em 449 a.C., já durante o reinado de Arta Xerxes I. O perigo medo-pérsico, nunca completamente esquecido, só seria dominado cento e cinquenta anos mais tarde, quando Alexandre III da Macedónia, o Grande, invadiu o Próximo Oriente e conquistou o vasto império de Dario III.
A historiografia moderna acha-se ainda contaminada pela visão que o Romantismo oitocentista legou a esta batalha: os Gregos, tradicionalmente desunidos, resolveram unir-se e lutar contra um inimigo comum, pois sentiam-se membros de uma mesma etnia – afinal, partilhavam o mesmo idioma, prestavam culto aos mesmos deuses, e celebravam comummente, por exemplo, de quatro em quatro anos, os Jogos Olímpicos, o exemplo mais demonstrativo do pan-helenismo. Agora, uniam-se para lutar contra um inimigo comum, que teria vindo para os subjugar, fazer dos livres Helenos meros súbditos do Rei de Reis; mais do que isso, uniam-se para preservar, não só a sua liberdade, como também a mais original das suas criações: a democracia, que vigorava em várias das suas póleis. Para isso, um grupo de soldados de élite – movidos pela virtude do heroísmo, tão apreciada pelos românticos – teria preferido pagar com a vida a defesa desses ideais, tornando-se num símbolo de coragem, espírito de sacrifício, e de resistência ao invasor.
Não é crível que os Gregos tivessem a consciência de constituírem uma Nação, no sentido que modernamente se dá ao termo (sentido esse forjado a partir do século XIX, precisamente pelos românticos). De igual modo, também parece improvável que os Helenos tenham tido a real noção de que a luta que estavam a travar era, mais que a simples defesa do seu território, um confronto de civilizações, entre valores e ideias radicalmente distintas.
Mais, a liberdade e o sistema de governo dos Gregos não estariam assim tão ameaçados pelo Império Persa (o qual, se comparado com os que o antecederam – como o assírio ou o babilónio –, era relativamente pacífico e tolerante); de facto, os Persas não foram os tiranos a que a historiografia grega alude – o desconhecimento, de parte a parte, dos costumes e tradições de cada um dos lados, levou à formação de mitos sobre ambos os povos sem qualquer fundo de verdade. Dessa forma foi fácil ao Romantismo aproveitar esses dados para fazer persistir a imagem do Persa como opressor quase até aos dias de hoje, quando na verdade, os Persas protegiam os costumes locais (foi durante o domínio persa que, por exemplo, os Judeus deportados na Babilónia regressaram a Jerusalém para reconstruir o Templo), e tinham o cuidado de não impor, nem a sua língua (usavam o aramaico, língua franca do Próximo Oriente antigo, como idioma da administração, e não o persa), nem a sua religião (o zoroastrismo) aos seus súbditos. Provavelmente o sistema democrático iria colidir com as noções de súbdito e de império, mas é bem provável que, à parte isso, os Gregos tivessem podido integrar-se, sem qualquer problema, naquele que tentou ser o primeiro grande império universal da História.
Quanto ao sacrifício dos Espartanos, tal deve ser entendido no quadro da sua própria mentalidade – como foi dito, estavam vocacionados desde a mais tenra infância para a vida militar, de tal forma que, muito provavelmente, a perspectiva de serem chacinados em combate não os terá perturbado minimamente (ainda que, não obstante, Heródoto documente dois casos de deserções entre os Espartanos).
As Termópilas constituem o exemplo, em termos de estratégia militar, de como um pequeno grupo de soldados bem treinados pode ter, em circunstâncias de desigualdade numérica, um grande impacto sobre um número de inimigos muito maior; contudo, esta estratégia só é eficaz num terreno desfavorável ao inimigo (campo fechado), pois, como foi dito, se a batalha tivesse sido travada numa planície, facilmente os Gregos sairiam derrotados.

















sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Conhecendo Maria Antonieta - Rainha da França


Maria Antônia Josefa Joana de Habsburgo-Lorena (em alemão:Maria Antonia Josepha Johanna von Habsburg-Lothringen; francês:Marie Antoinette Josèphe Jeanne de Habsbourg-Lorraine) (Viena, 2 de novembro de 1755 - Paris, 16 de outubro de 1793) foi umaarquiduquesa da Áustria e rainha consorte de França e Navarra. Décima quinta e penúltima filha de Francisco I, Sacro Imperador Romano-Germânico, e da imperatriz Maria Teresa da Áustria, casou-se em abril de 1770, aos quatorze anos de idade, com o então delfim de França (que subiria ao trono em maio de 1774 com o título de Luís XVI), numa tentativa de estreitar os laços entre os dois inimigos históricos.
Detestada pela corte francesa, onde era chamada L'Autre-chienne(uma paronomásia em francês das palavras autrichienne, que significa "mulher austríaca" e autre-chienne, que significa "outra cadela"), Maria Antonieta também ganhou gradualmente a antipatia do povo, que a acusava de perdulária e promíscua e de influenciar o marido a favor dos interesses austríacos.[1]
Depois da fuga de Varennes, Luís XVI foi deposto e a monarquia abolida em 21 de setembro de 1792; a família real foi posteriormente presa na Torre do Templo. Nove meses após a execução de seu marido, Maria Antonieta foi julgada, condenada por traição, eguilhotinada em 16 de outubro de 1793.
Após sua morte, Maria Antonieta tornou-se parte da cultura popular e uma figura histórica importante,[2] sendo o assunto de vários livros, filmes e outras mídias. Alguns acadêmicos e estudiosos acreditam que ela tenha tido um comportamento frívolo e superficial, atribuindo-lhe o início da Revolução Francesa; no entanto, outros historiadores alegam que ela foi retratada injustamente e que as opiniões ao seu respeito deveriam ser mais simpáticas

A infância
Maria Antonieta aos 7 anos de idade, óleo de Martin van Meytens, (1762), no Palácio de Schönbrunn.
Nascida no Palácio Imperial de Hofburg, Maria Antonieta era a penúltima dos dezesseis filhos da imperatriz Maria Teresa da Áustria e de Francisco I, Sacro Imperador Romano-Germânico. Batizada Maria Antônia Josefa Joana, era tratada em família e na corte pelo apelido afrancesado de Antoine (mais tarde, em França, passaria a ser chamada Marie Antoinette). Aos dois anos de idade, ela contraiu uma forma branda de varíola, mas recuperou-se sem ter na pele as marcas características da doença. Apesar da rigidez de sua educação e da etiqueta da corte, a arquiduquesa foi descrita como bastante espontânea.
Teve uma infância despreocupada, bastante mimada por sua governanta, a condessa Brandeiss, que lhe fazia todas as vontades e lhe dava o amor maternal que a imperatriz, sempre envolvida nos assuntos de estado, não teve tempo de dedicar-lhe. A condessa comprazia-se em transmitir à menina os princípios religiosos e morais adequados às arquiduquesas, mas também reduziu seu período de estudos diários.Como resultado, aos 12 anos, Antônia não falava nem escrevia corretamente os idiomas francês e alemão e só falava elegantemente o italiano graças aos esforços de seu professor Pietro Metastasio.Teve como professor de música o compositor Christoph Willibald Gluck, que a ensinou a tocar harpa, mas destacou-se especialmente por sua forma graciosa e refinada de dançar.
Em 18 de agosto de 1765, em Innsbruck, durante as celebrações do casamento do arquiduque Leopoldo, o imperador sofreu um derrame e morreu. Este acontecimento abalou profundamente todos os filhos de Francisco I e levou Maria Teresa a submeter-se a um pesado luto pelo resto de sua vida. A imperatriz nomeou seu filho mais velho (o futuro José II) como seu co-regente e assumiu uma postura de extrema rigidez com seus filhos menores: se anteriormente ela os havia neglicenciado pelo excesso de trabalho, passou vigiar-lhes de perto, repreendendo-os constantemente e demonstrando frequente insatisfação com seu comportamento. Em 1767, os planos da imperatriz de expandir ou construir novas alianças foram quase completamente destruídos por uma epidemia de varíola que atingiu até mesmo a família imperial. Para compensar as severas perdas, ela casou Maria Carolina com Fernando I das Duas Sicílias e Maria Amália com Fernando I de Parma. O casamento de Carolina muito entristeceu Antônia porque elas compartilhavam profundos laços de afeição, amizade e cumplicidade
Casamento político
A arquiduquesa aos 14 anos de idade, no retrato oficial enviado a Versalhes. Pastel de Joseph Ducreux (1769).
Maria Teresa usou Antônia como um "peão" no jogo político para cimentar uma nova aliança com o arqui-inimigo secular da Áustria: a França. Após longas negociações, comandadas pelo francês duque de Choiseul e pelo austríaco príncipe de Starhemberg, acertou-se o compromisso da jovem comLuís Augusto, delfim de França.
Em novembro de 1768, o abade de Vermond partiu para Viena, como tutor de Antônia. A arquiduquesa, embora bela e inteligente, também era descrita como preguiçosa e indisciplinada e não tinha o conhecimento necessário para desempenhar o papel de rainha. O abade submeteu Antônia a um programa educacional projetado especialmente para ela, onde substituiu o estudo de livros por longas palestras que versavam sobre história, religião e literatura francesa. O programa obteve bons resultados e o tutor ficou encantado com os progressos de Antônia.
Em 13 de junho de 1769 o noivado foi oficialmente anunciado. Os detalhes para o matrimônio foram meticulosamente preparados durante e Antônia teve seu dote fixado em 200 mil coroas (com igual valor em jóias). Nos poucos meses que antecederam o casamento, Maria Teresa tentou recuperar a relação com a filha, dividindo seus aposentos com ela nas últimas noites antes da partida para a França. Em 19 de abril de 1770 foi celebrado o casamento por procuração. A partir desse momento Antônia foi oficialmente chamada de "Marie Antoinette, Dauphine de France".
Em 21 de abril de 1770, seguida por um suntuoso cortejo de cinquenta e sete carruagens, Maria Antonieta deixou Viena permanentemente. Embora devesse esquecer suas origens austríacas e tornar-se uma francesa de corpo e alma, como se esperava de toda rainha consorte de França, a jovem delfina preferiu seguir as instruções de sua mãe, que lhe ordenou no momento da despedida: "Continue sendo uma boa alemã". A imperatriz continuaria a intimidar sua filha nas cartas mensais expedidas para Versalhes, onde lembrava a fidelidade que a jovem devia à Casa d'Áustria.
Após duas semanas de viagem e sendo elogiada por onde passava, a delfina chegou a Shüttern, na margem do Reno oposta a Estrasburgo. Em um pavilhão de madeira construído especialmente para a ocasião em uma pequena ilha no Reno, teve lugar a cerimônia da remise, durante a qual Maria Antonieta trocou seus trajes austríacos pelos franceses. A delfina despediu-se definitivamente de seu séquito para ser acolhida por um cortejo francês, chefiado pela condessa de Noailles, recentemente nomeada "Grã-Mestra da Casa da Delfina".
O cortejo retomou a marcha para Compiègne, onde a delfina era esperada pela corte francesa, incluindo o rei Luís XV, o delfim e o duque de Choiseul, que foi ao encontro da jovem e auxiliou seu desembarque. Maria Antonieta disse-lhe:"Nunca esquecerei que você foi o defensor de minha felicidade!" O casal viu-se pela primeira vez e a delfina notou que seu marido era muito diferente do descrito durante as negociações de casamento: era desajeitado, inábil e já bastante forte para sua idade; os retratos enviados para a Áustria haviam favorecido grandemente sua aparência.
O casamento foi celebrado em 16 de maio, numa cerimônia solene em Versalhes, e todo o povo foi convidado a festejar a alegria da família real. Após o jantar, iniciou-se a cerimônia do coucher a qual, pela etiqueta, deveria ser presenciada por toda a corte. O casal foi para a cama e o leito nupcial foi abençoado pelo arcebispo. Ao final da cerimônia os noivos foram deixados a sós, mas o casamento não foi consumado.

Madame la Dauphine

Devido ao ódio cultivado pela Áustria, Maria Antonieta não era vista com bons olhos pela maior parte da corte francesa. As Mesdames Tantes (tias de Luís Augusto), a quem a delfina se aproximou por conselhos de sua mãe, foram as primeiras a chamá-la pelas costas de "A Austríaca". Até mesmo o delfim tinha ódio pelos austríacos e seu tutor, o duque de La Vauguyon, alimentava esse sentimento contra a entourage de Maria Antonieta, composta unicamente por amigos do ministro Choiseul: o abade Vermond, a condessa de Noailles e o embaixador austríaco conde de Mercy-Argenteau.
As Mesdames e o delfim exultaram quando o ministro foi demitido, em 24 de dezembro de 1770, enquanto Maria Antonieta se dava conta de que seu marido havia se casado sob coação e que a aliança franco-austríaca, que Maria Teresa procurava por todos os meios manter, não era bem vista por todos em Versalhes. Provavelmente, era devido aos seus preconceitos que Luís Augusto, mesmo muitos meses após o casamento, ainda não havia tocado a delfina. Ele sentia um estranho sentimento de repulsa contra ela: segundo um relatório do primeiro cirurgião de Luís XV, o delfim não sofria de qualquer deformidade, mas de uma barreira psicológica devido a sua educação preconceituosa.

                                                        
A delfina em trajes de montaria. Pastel de Joseph Kreutzinger, (1771), no Palácio de Schönbrunn.
A corte de Versalhes especulava quando o casamento teria sido consumado. A fim de controlar o comportamento de sua filha, Maria Teresa encarregou o conde de Mercy-Argenteau de enviar-lhe relatórios detalhados sobre a consumação do casamento. Ingenuamente, Maria Antonieta confidenciava tanto ao conde quanto ao abade os motivos pelos quais temia escrever à mãe. A delfina nunca suspeitou que eles foram os primeiros a traí-la, informando a soberana sobre aquilo que ela tentava esconder.
Meses se passaram sem que a situação se alterasse. A imperatriz criticava constantemente a filha, por sua incapacidade em despertar paixão no marido, que raramente dormia com ela, e de promover os interesses da Casa d'Áustria. Mais tarde, ela passou a ofender Maria Antonieta de forma direta, acusando-a de falta de beleza e de talento e tratando-a por fracassada, especialmente após o casamento do conde de Provença com Maria Josefina de Saboia e do conde d'Artois com Maria Teresa de Saboia.[nota 5] No entanto, com o passar do tempo e seguindo os conselhos de sua mãe, a delfina conseguiu conquistar a simpatia, se não o amor, do delfim, que confidenciou às suas tias que achava sua mulher "muito atraente".
Enquanto isso, as Mesdames incentivavam as hostilidades dos herdeiros do trono contra a Madame du Barry, amante do rei e responsável pela demissão de Choiseul. Embora o desprezo para com a favorita unisse o jovem casal, sua postura de tácita condenação à vida privada de Luís XV os afastava fortemente do soberano. Maria Antonieta, então, decidiu não dirigir a palavra à amante real, apesar das ordens contrárias de sua mãe transmitidas pelo conde Mercy. Ainda que mantivesse seu temor por Maria Teresa, foi a primeira vez que a delfina descumpriu uma ordem materna.
O comportamento da filha enfureceu Maria Teresa, que lhe enviou uma severa repreensão dizendo que sua conduta estava colocando em crise a aliança franco-austríaca. Finalmente, após sete meses, Maria Antonietta capitulou: em 1 de janeiro de 1772, dirigiu à Madame Du Barry apenas estas palavras: "Há muitas pessoas em Versalhes hoje." A situação foi contornada, mas representou uma grande humilhação para a delfina: "Eu lhe falei uma vez, mas estou decidida a não fazê-lo novamente e aquela mulher não ouvirá mais o som de minha voz", disse ao marido. Nem o conde Mercy nem Maria Teresa jamais puderam imaginar o mal que fizeram ao orgulho e à integridade da jovem.
Em 8 de junho de 1773, uma multidão entusiasmada saudou a entrada oficial dos herdeiros ao trono da França em Paris. O festival atingiu o seu clímax quando os delfins surgiram à noite na varanda das Tulherias. Em 22 de julho de 1773 o delfim apresentou a Luís XV "sua mulher", dizendo que naquela noite havia sido finalmente capaz de consumar o casamento. O rei abraçou o casal com alegria. Na verdade, depois de vários e desajeitados intercursos sexuais, o delfim só havia conseguido deflorar sua esposa, mas foi incapaz de completar o ato.
Na primavera de 1774, Maria Antonieta trouxe seu antigo professor de música, Christoph Gluck, para encenar uma ópera composta por ele: Iphigénie en Aulide. Em 19 de abril, foi a primeira vez em que a delfina serviu de anfitriã à toda a família real e foi um sucesso. Poucos dias após a apresentação da ópera, o rei Luís XV passou mal após uma caçada, sendo diagnosticado com varíola e morrendo em 10 de maio. Com apenas 18 anos, Maria Antonieta tornou-se rainha da França. Ao saber da notícia, Maria Teresa escreveu ao embaixador Mercy: "O destino de minha filha não pode ser grandioso nem muito infeliz. Creio que seus melhores dias se foram!"

Primeiros anos de reinado

Logo, o comportamento e a falta de respeito dos cortesãos afastaram Maria Antonieta da antiga nobreza da corte. Tais condutas não seriam toleradas por uma rainha francesa, especialmente se ela nascera como altiva arquiduquesa da Áustria. A popularidade da rainha começou lentamente a declinar: começaram a circular panfletos escandalosos, principalmente pornográficos, contra ela, que passou a ser chamada de Madame Scandale.
Maria Antonieta também foi acusada de influenciar a política de seu marido, embora os ministros escolhidos por Luís XVI, Jean-Frédéric de Maurepas e o conde de Vergennes, fossem fortemente anti-austríacos e muito determinados em não permitir a interferência da rainha e da Casa d'Áustria na política francesa. Em sua vida privada, Maria Antonieta estava insatisfeita: seu casamento, para grande desagrado da imperatriz, não tinha sido consumado e as esperanças de nascimento de um herdeiro para o trono desapareciam. Sob a fachada de frivolidade e alegria da rainha estava a melancolia de uma mulher frustrada e insatisfeita. Neste período, ela sentia necessidade de entregar-se a divertimentos dispendiosos, como os caros e extravagantes vestidos da modista Rose Bertin, os colossais penteados de Léonard e até mesmo os jogos de azar.
Na primavera de 1775, o criticado programa econômico do ministro das finanças Jacques Turgot, levou a graves distúrbios, com a eclosão de motins em toda a França, conhecidos como a "Guerra da Farinha". Foi nessa ocasião que se atribuiu falsamente a Maria Antonieta a frase: "Se o povo não tem pão, que coma brioches! "
                                     
Maria Antonieta tocando harpa na corte francesa. Pintura de Jean-Baptiste Gautier Dagoty (1777), no Palácio de Versalhes.

No verão do mesmo ano, Maria Antonieta conheceu Yolande de Polignac, que viria a tornar-se sua melhor amiga. Yolande apresentou a rainha para a comitiva da família Polignac, que iria dominar a corte por anos. Em 6 de agosto de 1775 sua cunhada, a condessa d'Artois, deu à luz um filho, oduque d'Angoulême, terceiro na linha de sucessão ao trono (atrás apenas de seu tio e seu pai). Naquele dia, Maria Antonieta foi insultada na corte e trancou-se em seus aposentos, aos prantos. Isto gerou a circulação de panfletos que destacavam a impotência do rei e à busca do prazer sexual pela rainha, tanto com homens como com mulheres. Entre os amantes atribuídos à Maria Antonieta estavam seus amigos mais próximos: a princesa de Lamballe e seu cunhado, o conde d'Artois.
Em agosto, o rei presenteou a esposa com o Petit Trianon, um anexo construído anos antes para a Madame de Pompadour que a rainha havia restaurado de acordo com seu pessoal gosto neoclássico, onde prevalecia a simplicidade e a elegância. Pouco depois a França mergulhou numa crise financeira: à dívida contraída durante a Guerra dos Sete Anos foram adicionadas as despesas da participação na Guerra de Independência Americana. Em 1776, Turgot foi demitido e em seu lugar foi nomeado ministro das finanças o banqueiro suíço Jacques Necker, que tentou, sem sucesso, reduzir os custos excessivos da corte.
Em 18 de abril 1777, o imperador José II chegou a Paris para investigar porque o casamento entre sua irmã e seu cunhado ainda não havia sido consumado. Maria Antonieta rapidamente passou a relatar ao irmão sua difícil situação conjugal. Acreditava-se que Luís XVI sofria de fimose e que necessitasse de uma intervenção cirúrgica para poder realizar o ato sexual. No entanto, após conversar com o rei, José II chegou à conclusão de que ele tinha ereções satisfatórias, mas não conseguia mantê-las após a penetração por tempo suficiente para ejacular, o que tornava a cópula um ato de dever e não de prazer. O imperador também concluiu que sua irmã não tinha apetite para o sexo nem, tampouco, desenvoltura (situação muito diferente daquela descrita nos panfletos). Segundo ele, o rei e a rainha da França eram "dois perfeitos confusos."
Depois de esclarecer o assunto com o rei, José II passou a criticar a irmã por sua frivolidade, seu desperdício e suas amizades. Em carta ao irmão Leopoldo, o imperador declarou: "Ainda é muito infantil e essencialmente pura e virtuosa." Ao retornar à Áustria, José II deixou várias recomendações por escrito, intencionalmente exageradas, a fim de assustar sua irmã e fazê-la adotar um estilo de vida mais sério. A rainha, angustiada com a carta, reconheceu seus erros e prometeu ao irmão corrigir seu comportamento. Graças aos conselhos fraternos, Maria Antonieta se reaproximou do rei e, em 18 agosto de 1777, o casamento foi oficialmente consumado.

A maternidade

No início de 1778 estourou a guerra de sucessão da Baviera. A rainha, sofrendo pesada chantagem psicológica pela mãe e habilmente manipulada pelo embaixador Mercy, esforçou-se para promover os interesses austríacos junto ao marido, mas isso despertou a oposição dos ministros do rei e a desconfiança de parte dos súditos. A partir de então, Maria Antonieta passou a ser chamada "a austríaca"
Na primavera desse ano, seguindo os conselhos de Mercy, a rainha retomou a vida conjugal com seu marido e ficou grávida. Como a situação política não se alterava, sua família austríaca a acusava de ser inútil aos interesses da aliança; mas sua única preocupação era com o bem-estar do herdeiro que estava gerando. Em 19 de dezembro de 1778, Maria Antonieta deu à luz, sendo seu parto assistido por toda a corte, como determinava a etiqueta. Devido a algumas complicações pós-parto, a soberana teve uma hemorragia e perdeu a consciência. Somente mais tarde ela foi informada que havia dado à luz uma menina, que recebeu o nome de Maria Teresa Carlota.
Naqueles anos, concluiu-se a restauração do Petit Trianon e dos jardins adjacentes. Inimiga de qualquer tipo de limitação e convicta de que as rainhas tinham direito a uma vida privada, Maria Antonieta passou a habitar o palacete, longe da sufocante etiqueta de Versalhes e dos escândalos dos cortesãos. Nesse mesmo período, a amizade com a condessa de Polignac tornou-se mais forte, levantando rumores de um suposto relacionamento homossexual entre elas. Porém, o que mais enfureceu muitas pessoas foram os privilégios e os altos cargos que a rainha reservava à amiga e à sua camarilha, numa época em que se começava a falar seriamente em redução de custos. A gota d'água veio em outubro de 1780, quando o conde de Polignac recebeu o título de duque e sua esposa o privilégio de um tabouret, um banquinho dobrável que lhe dava permissão de sentar-se na presença da soberana.
Em Viena, a imperatriz ficava cada vez mais angustiada em pensar que sua filha fora manipulada por um círculo de "supostos amigos" que a afastavam da vida na corte. Ela tentou avisá-la, explicando-lhe suavemente, sem o habitual tom autoritário, que os problemas eram inerentes às funções de Estado, mas que os inconvenientes causados quando elas não eram cumpridas eram muito piores que os pequenos inconvenientes de se apresentar em público. A rainha, no entanto, minimizou a influência que seus amigos tinham sobre ela. Em 29 de novembro de 1780 a imperatriz Maria Teresa morreu. Quando Maria Antonieta recebeu a notícia, desmaiou de dor. Grata ao marido por ter ficado ao seu lado naqueles momentos dolorosos, ela voltou a aproximar-se dele e, em fevereiro, já se falava de outra gravidez.
Em maio de 1781, Necker renunciou por recomendação do conde de Maurepas, que viria a falecer em novembro. Em julho, José II voltou a visitar a irmã e foi durante esse encontro que surgiram as primeiras acusações contra a rainha: especulava-se que ela gastaria grandes somas de dinheiro do tesouro real com o irmão. Entretanto, os boatos eram falsos.
Em 22 de outubro de 1781, para alegria do rei e da nação, a rainha deu à luz o tão desejado sucessor ao trono, que recebeu o nome de Luís José. Depois de dar um herdeiro ao Estado, Maria Antonieta poderia legitimamente ser considerada a rainha da França. Ainda que a felicidade pelo nascimento do delfim tenha se espalhado por todo o país, não impediu a circulação de panfletos satíricos que questionavam a paternidade da criança. A reputação da rainha, já minada pelos rumores sobre seus modos displicentes, saiu ainda mais danificada.

A hostilidade popular

No final do Verão de 1782, estourou o escândalo da falência Guéménée, levando a princesa de Guéménée, governanta dos Fils de France, a pedir demissão do cargo. A tarefa foi então assumida por Yolande de Polignac, aumentando os boatos sobre as duas amigas e a antipatia contra a soberana. Enquanto isso, entre 1782 e 1783, Maria Antonieta iniciou, próximo ao Petit Trianon, uma pequena vila de doze casas (nove dos quais ainda estão de pé). Baseada em uma pintura de Hubert Robert e projetada por Richard Mique, a vila ficou conhecida como Hameau de la Reine. Essa busca por uma vida simples, inspirada no mito da Arcádia de Virgílio e Teócrito, foi considerada escandalosa e inadequada para uma rainha.

Maria Antonieta com vestido de musselina branca e chapéu de palha. Pintura de Elisabeth Vigée-Le Brun (1783).
Nessa época, José II pediu à irmã que convencesse seu marido a apoiar a Áustria e a Rússia na partição do Império Otomano. De fato, Maria Antonieta, tentando promover os interesses austríacos, aproximou-se mais uma vez do marido, engravidando em seguida. Todavia, desta vez, as manobras da rainha não surtiram resultados úteis para os Habsburgo. Em 1 de novembro de 1783, já em adiantado estado de gravidez, ela sofreria um aborto espontâneo, do qual levaria meses para se recuperar. Numa prolongada fase depressiva, Maria Antonieta sofreu grande influência da duquesa de Polignac, que conseguiu obter dela nomeação de Charles Alexandre de Calonne como controlador-geral de finanças. A política desastrosa de Calonne levou a França à completa insolvência e, nos anos seguintes, tornou-se um dos maiores inimigos da rainha.
Em 1784, o rei proibiu a encenação de As Bodas de Fígaro de Beaumarchais pelo conteúdo explícito que ia contra os interesses da aristocracia. A rainha e sua comitiva fizeram várias representações ao rei, que terminou por levantar a proibição. O espetáculo, representado diante da rainha e do rei Gustavo III da Suécia, foi um grande sucesso. O soberano sueco, que viajava incógnito a Paris, alertou Maria Antonieta sobre o conteúdo perigoso da peça e ela acusou sua entourage de induzi-la a fazer Luís XVI mudar de ideia sobre a proibição. Estes seriam os primeiros sinais de desentendimento entre a rainha e a duquesa de Polignac. Logo após a partida do rei da Suécia, Maria Antonieta descobriu que estava grávida novamente.
Ao mesmo tempo, José II, que travava a chamada "Guerra Silenciosa" ou "Guerra das Marmitas" contra os holandeses, inquiriu sua irmã sobre uma possível intervenção de Luís XVI a seu favor, mas o rei recusou. Em carta, Maria Antonieta explicou ao irmão que não tinha qualquer influência sobre o rei nas questões políticas. Por fim, Luís XVI interveio e comprometeu-se a pagar uma quantia em dinheiro à Holanda em nome da Áustria, ação atribuída à influência da rainha. A dedicação de Maria Antonieta à Casa d'Áustria escandalizou muitas pessoas na corte, aumentando sua impopularidade já constantemente alimentada por panfletos difamatórios e pelas maledicências sobre seu comportamento frívolo e leviano. A rainha passou a ser odiada tanto pelo povo quanto pela maior parte da corte.
Com o avanço da gravidez, Maria Antonieta convenceu o rei a comprar do duque de Chartres o Castelo de Saint-Cloud. A exorbitante quantia gasta na transação acirrou ainda mais o ódio contra ela, especialmente porque o castelo não foi adquirido como um bem do Estado, mas como propriedade privada da rainha da França. Em 27 de março de 1785, nasceu o terceiro filho do casal real, que foi batizado como Luís Carlos.

O caso do colar

O colar de diamantes no centro do escândalo. Seu custo foi de 1.600.000 livres, o equivalente a cerca de 500 kg de ouro.
Em 1785, a rainha, que vinha atuando como atriz no teatro do Petit Trianon, decidiu encenar a famosa comédia O Barbeiro de Sevilha de Beaumarchais. Em 12 de julho, enquanto ela ensaiava, recebeu um bilhete de Boehmer, o joalheiro da corte, agradecendo-lhe por ter comprado um colar e lembrando-lhe que a data de pagamento da primeira parcela se aproximava. Maria Antonieta não entendeu do que o bilhete tratava e acabou queimando-o.
A verdade sobre o assunto veio à tona pouco depois. Boehmer estava convencido de que havia vendido um colar de diamantes para a rainha, tendo o cardeal de Rohan como avalista, a quem Maria Antonieta não dirigia a palavra havia mais de uma década. Em 15 de agosto, perante o rei e a rainha, Rohan foi questionado sobre o assunto, sendo preso em seguida diante dos cortesãos presentes na Sala dos Espelhos. Antes de ser levado em custódia, Rohan conseguiu que seus cúmplices destruissem quase todos os documentos comprometedores sobre o caso. Alguns dias depois ele foi preso na Bastilha. As investigações realizadas pela coroa apontaram que o cardeal, tentando aproximar-se de Maria Antonieta, havia sido enganado pela condessa Jeanne de La Motte-Valois, que também foi presa e levada para a Bastilha. Durante algum tempo, a condessa fez ver ao cardeal que ela era amiga íntima da rainha, graças a uma longa correspondência falsa e um encontro, ocorrido durante a noite nos jardins de Versalhes, com uma prostituta chamada Nicole D'Oliva, vestida como Maria Antonieta. Sabedora da existência do colar de Boehmer, a condessa de La Motte fez com que o cardeal o comprasse e entregasse à ela. A jóia, desmontada em várias peças, foi vendida em Londres pelo marido da condessa.
Em 25 de agosto, Maria Antonieta exigiu um julgamento público para mostrar a todos que era inocente. Após um longo processo, concluído em 31 de maio de 1786, os resultados foram os seguintes: apesar de culpado do crime de lesa-majestade, Rohan foi absolvido e todas as acusações que pesavam contra ele foram declaradas inexistentes; assim, o parlamento de Paris mostrou que ousava desafiar a autoridade do rei. A condessa de La Motte, no entanto, foi condenada a ser marcada publicamente como ladra e à prisão perpétua na Salpêtrière. A absolvição de Rohan não foi apreciada pela corte de Versalhes e Luís XVI mandou-o para o exílio. Profundamente abalada, Maria Antonieta deu-se conta de sua imagem perante a opinião pública: uma mulher má, que dilapidava os cofres do Estado, manipulava o soberano a favor dos interesses do imperador austríaco e traía o marido para satisfazer seus instintos lascivos.
Nesse meio tempo, a rainha cortou parte de suas despesas e adotou um estilo de trajar mais sóbrio e adequado à uma soberana. Grávida pela quarta vez em pleno andamento do processo, Maria Antonieta deu à luz em 9 de julho de 1786 uma menina prematura que recebeu o nome de Maria Sofia Helena Beatriz. Fora do palácio, entretanto, a rainha foi alvo de numerosos panfletos pornográficos e satíricos, surgidos após o caso do colar.

Atividade política
 

Maria Antonieta com seus filhos. Pintura de Élisabeth Vigée-Le Brun (1787).

A grave crise financeira iniciada em 1783 agravou-se a tal ponto que o rei, em acordo com o ministro Calonne, decidiu convocar a Assembleia dos Notáveis ​​(após uma pausa de 160 anos) numa tentativa de implementar algumas reformas necessárias para aliviar a situação o país. Mesmo estando ausente das reuniões, Maria Antonieta foi acusada de tentar frustrar seus propósitos. A verdade é que, com ou sem a presença da rainha, a Assembleia revelou-se infrutífera e Luís XVI demitiu Calonne. Maria Antonieta permanecia sem se intrometer na política interna, aceitando passivamente as decisões do marido, como quando o rei ignorou a indicação de um candidato pró-Áustria para o cargo de ministro dos negócios estrangeiros. Nessa ocasião, a rainha declarou ao embaixador Mercy que "não era justo que a corte vienense nomeasse ministros na corte de Versalhes."
O rei, porém, caiu em depressão profunda e Maria Antonieta, que nunca havia aspirado o poder, viu-se obrigada a abandonar sua vida frívola e tratar dos assuntos de Estado. Surpreendentemente, a política da rainha revelou-se radicalmente anti-austríaca, demonstrando que sua principal preocupação era a estabilidade da França para o bem de seus herdeiros, os Fils de France. Em maio, para substituir Calonne como ministro das Finanças, o rei nomeou o arcebispo Loménie de Brienne, um aliado político da rainha, que a aconselhou a fazer grandes cortes em suas despesas e nas de seus amigos. A redução dos gastos não melhorou sua popularidade, mas afastou-a de seus amigos e a população passou a compará-la a Fredegunda e Isabel da Baviera - as mais terríveis e odiadas rainhas de França.
Brienne não obteve melhores resultados que seu antecessor e, em 25 de maio, a Assembleia de Notáveis ​​foi dissolvida. Considerada responsável por esses fracassos, Maria Antonieta tentou em vão reagir com a sua ingênua propaganda, deixando-se retratar por Madame Vigée Le Brun junto aos filhos, como a mãe da França. No mesmo período, Jeanne de La Motte escapou da prisão e fugiu para Londres onde, sob a proteção de Calonne, publicou suas memórias contra a rainha.
A política do rei, que exilou o parlamento de Paris em 11 de novembro, favoreceu aqueles que apoiavam seu primo, o duque de Orléans. Do Palais-Royal, sua residência em Paris, ele começou uma intensa campanha contra a coroa e, especialmente, contra a rainha, de quem o duque sentia um ódio particular. Os percalços aos quais o rei e a rainha foram submetidos acabaram por prejudicar sua saúde: Luís XVI sofreu uma violenta crise de erisipela, enquanto a soberana, devido a algum distúrbio não diagnosticado, passou a engordar. Após a eclosão de vários tumultos o rei, em 8 de julho e 8 de agosto, anunciou sua intenção de convocar os Estados Gerais, tradicional órgão legislativo que não era convocado desde 1614.

Maria Antonieta com um livro. Último retrato oficial da rainha pintado por Elisabeth Vigée-Le Brun (1788).
A rainha não esteve diretamente envolvida no exílio do parlamento, nos editais de maio ou na convocação dos Estados Gerais. Sua principal preocupação, entre o final de 1787 e o início de 1788 foi frágil saúde do delfim, num estágio avançado de tuberculose que lhe havia provocado o encurvamento da coluna vertebral. Ela foi, no entanto, o artífice da chamada de Jacques Necker para ocupar novamente o cargo de ministro das finanças, em 26 de agosto; uma jogada populista e arriscada, pois a rainha sabia que o povo se voltaria contra ela se a nomeação do suíço não estabilizasse as finanças do país. Sua previsão se concretizou quando o preço do pão começou a subir devido ao inverno rigoroso (um dos mais frios da história) entre 1788 e 1789 e após a má colheita do verão anterior. Várias revoltas eclodiram por toda a França: padarias foram saqueadas e as tropas enviadas para abrir fogo contra a multidão.
Em 4 de maio de 1789 teve lugar o desfile de abertura dos Estados Gerais. Maria Antonieta foi o principal alvo da multidão que gritava, à sua passagem, a frase: "Viva o duque de Orléans". No dia seguinte, quando os três estados reuniram-se em Versalhes, a rainha foi recebida com silêncio na sala. Os soberanos não tomaram parte nos acontecimentos daqueles dias, preocupados que estavam com a agonia do delfim. De fato, Maria Antonieta permaneceu em Meudon, ao lado do filho, até a morte deste, na noite de 4 de junho, aos oito anos de idade. O casal real velou o corpo do filho por toda a noite mas, devido as regras de etiqueta, não puderam assistir aos funerais na Basílica de Saint-Denis. A morte do delfim, que normalmente causaria comoção nacional, foi praticamente ignorada pelo povo francês, mais preocupado com as reuniões dos Estados Gerais e esperançoso de melhorias sociais. "Meu filho está morto e não parece importar a ninguém!", exclamou a rainha. Quando o Terceiro Estado declarou-se uma Assembleia Nacional auto-constituída no salão de tênis, surgiram rumores de que a rainha desejava banhar-se no sangue dos cidadãos. Na verdade, nesse momento a rainha encontrava-se em profunda depressão pela morte do filho.

A Revolução


Retrato de Maria Antonieta pintado em 1791 por Alexandre Kucharsky, pintor da corte após a fuga de Elisabeth Vigée-Le Brun para o exterior.

A situação começou a evoluir de forma violenta nos meses de junho e julho, quando a Assembleia Nacional passou a exigir mais e mais direitos a Luís XVI que, por sua vez, tentava limitar e reprimir o poder do Terceiro Estado. A rainha e os irmãos do rei exigiram a imediata dissolução dos Estados Gerais, de preferência com a prisão dos militantes mais destacados do Terceiro Estado. Maria Antonieta, que não compreendia as aspirações do povo, acreditava que os distúrbios eram provocados por terceiros, que incitavam os súditos a lutar contra a coroa. Em sua concepção, numa monarquia absoluta não havia lugar para deputados eleitos exercerem o poder legislativo. Em 11 de julho, a notícia da demissão de Necker espalhou-se por Paris, provocando inúmeros distúrbios que culminariam com a Tomada da Bastilha, três dias mais tarde.
Nas semanas que se seguiram, muitos dos monarquistas conservadores, incluindo o conde d'Artois e a duquesa de Polignac, fugiram da França por temerem uma onda de assassinatos. Maria Antonieta, mesmo angustiada por saber que sua vida corria perigo, decidiu ficar para ajudar o marido a restabelecer a tranquilidade, embora o poder do rei tivesse sido progressivamente limitado pela Assembleia Constituinte que, então sediada em Paris, passou a recrutar homens para a Guarda Nacional.
No clima do Grande Medo que varreu o país entre julho e agosto, a figura de Maria Antonieta personificava os horrores de uma sangrenta contra-revolução. Em 1 de outubro, foi oferecido no Palácio de Versalhes um jantar em honra doRégiment de Flandres (regimento de infantaria regular do exército real), evento que foi noticiado em Paris como orgia anti-revolucionária. Em 5 de outubro, uma multidão armada, composta em sua maioria por mulheres, marcharam sobre Versalhes para exigir pão e apresentar uma petição ao rei. Na manhã de 6 de outubro os apartamentos reais foram invadidos, havendo mortes entre os manifestantes e os guardas. A família real, então, foi forçada a voltar para Paris, sendo alojada no Palácio das Tulherias e sob a vigilância.
Maria Antonieta escreveu aos seus amigos, dizendo que não tinha intenção de vincular-se ainda mais à política francesa porque, participando ou não, tudo seria inevitavelmente atribuído à ela e que temia as repercussões de um maior envolvimento. Apesar da situação, a rainha continuou a desempenhar suas funções na distribuição de esmolas e nas cerimônias religiosas, mas dedicava a maior parte de seu tempo aos filhos. Nas Tulherias, a família real estava virtualmente em prisão domiciliar e, muitas vezes, era alvo de insultos recebidos da rua. A rainha permanecia confinada no palácio; raramente aparecia em público e vestia-se com simplicidade. Porém, sua atitude reservada foi interpretada negativamente e ela passou a ser acusada de frieza e distanciamento.
  
                                                        
Pastel inacabado de Alexandre Kucharsky mostrando Maria Antonieta pouco antes da Fuga de Varennes. No canto inferior esquerdo pode-se ver o golpe da baioneta de um revolucionário.
Em fevereiro de 1790, Luís XVI foi forçado a aprovar a Constituição. Nessa época começaram os contatos entre o soberano e o conde de Mirabeau, um nobre simpatizante da revolução que decidiu ajudar a monarquia, orientando-a para um modelo constitucional. Embora Maria Antonieta desaprovasse a conduta moral do conde, aceitou sua ajuda. Mirabeau, por sua vez, admirava a rainha por sua determinação "viril", chegando mesmo a declarar: "O rei tem apenas um homem com ele: sua mulher!"
Em troca de dinheiro, o deputado teria enviado várias notas aos soberanos a fim de esclarecer-lhes a situação política, de acordo com seu ponto de vista. Mirabeau conseguiu incluir na carta constitucional significativas melhorias na situação do rei, trazendo alguma tranquilidade aos soberanos. No exterior, os Luís XVI e Maria Antonieta eram vistos pelos monarquistas emigrados como traidores da causa monárquica enquanto, em Paris, o rei era visto como um traidor nação e, como tal, merecedor da pena de morte. Todas essas fontes de preocupações contínuas e diárias (todos os dias surgiam rumores de atentados contra a rainha ou de seu encerramento num convento) envelheceram precocemente a jovem rainha, que contava apenas 35 anos. O constante medo da morte, sua e de sua família, a marcaram profundamente. Em 2 de abril de 1791, Mirabeau morreu.
Em 21 de junho de 1791, a família real tentou fugir para os Países Baixos Austríacos , mas, a poucos quilômetros da fronteira, próximo à cidade de Varennes-en-Argonne, foi reconhecida, presa e levada de volta a Paris. Durante a viagem, foram atacados e insultados. A tentativa de fuga acabou por destruir a já abalada idéia da sacralidade da pessoa do rei. Começou-se a pensar que um rei que havia traído a nação e ainda tentava fugir, já não era necessário nem mesmo ao Estado.
Enquanto isso, Maria Antonieta continuava com um jogo duplo: por um lado, retomou os contatos com as cortes da Europa a procura de apoio; por outro, contava com a ajuda de Antoine Barnave, um jovem político moderado que conhecera no retorno de Varennes, para tirar a monarquia do impasse em que se encontrava devido à tentativa de fuga. A rainha, no entanto, não se deu conta de que o jovem não tinha nem mesmo um lampejo da influência que Mirabeau exercia sobre a Assembleia, a qual estava muito mais em consonância com a fúria do povo contra os soberanos. Apesar disso, Barnave escreveu várias cartas para o casal real, tentando convencê-los a abandonar o movimento contra-revolucionário e a aceitar a Constituição, cujos principais itens, segundo palavras de Maria Antonieta a Mercy, eram uma "série de absurdos irrealizáveis."
Finalmente, em 14 de setembro de 1791, o rei ratificou a primeira constituição francesa. Mais tarde, solicitado pela Assembléia, Luís XVI declarou guerra à Áustria mas, em junho de 1792, usou seu poder de veto contra a deportação de padres refratários (clérigos que tinham jurado fidelidade à Constituição) e a formação de um corpo de soldados provinciais a serem alocados nos arredores de Paris. Em 20 de junho de 1792, o povo em armas atacou pela primeira vez o Palácio das Tulherias. A membros da família real foram novamente insultados, mas mantiveram a compostura diante de cada ameaça.
Os acontecimentos de 20 de junho foram apenas um ensaio geral do que aconteceria em 10 de agosto. Nesse dia houve o mais sangrento ataque ao palácio, que marcou a derrocada final da monarquia francesa. No ataque morreram todos os guardas suíços (Cent-Suisses) do rei e muitos nobres permaneceram para defender a família real, que se refugiou na Assembleia Nacional. Por ordem da Comuna, a família real foi transferida para Torre do Templo, um antigo mosteiro dos Templários utilizado à época como prisão. Os soberanos, seus filhos e a irmã do rei foram encarcerados;Madame Campan, primeira camareira da rainha, e a princesa de Lamballe não tiveram autorização de acompanhá-los. Esta última foi morta e esquartejada durante os massacres de setembro e sua cabeça foi levada em procissão sob as janelas da rainha, que desmaiou de horror. Poucos meses depois, iniciou-se o processo que condenou Luís XVI à morte na guilhotina, em 21 de janeiro de 1793, na atual Place de la Concorde, em Paris. 

A viúva Capeto


Após a morte do rei, a viúva Capeto, como Maria Antonieta passou a ser chamada, viveu vários meses em confinamento na Torre do Templo com sua filha Maria Teresa, sua cunhada Isabel e o delfim (Luís XVII para os legitimistas). Nesse período, o chevalier de Jarjayes (um general monarquista) conseguiu entrar no cárcere e propor um plano de fuga para a rainha, mas ela recusou-se a sair sem seus filhos. A pedido da Convenção, Luís Carlos foi separado da família em 3 de julho. Segundo Maria Teresa relataria mais tarde, Maria Antonieta opôs-se fortemente à determinação, apenas cedendo quando os carcereiros ameaçaram usar de violência contra o delfim. A educação de Luís Carlos foi confiada a Antoine Simon, um sapateiro analfabeto. Sua tarefa era colocar o menino contra a mãe para que ele fosse usado como arma no julgamento de Maria Antonieta. Em 6 de outubro, Luís Carlos assinou uma declaração em que acusava sua mãe de tê-lo iniciado em práticas masturbatórias e incestuosas.
Maria Antonieta foi transferida para a prisão da Conciergerie em 2 de agosto de 1793. A ex-rainha, muito doente e sofrendo de uma grave hemorragia, encontrou consolo na leitura e nos cuidados de Rosalie Lamorlière, a camareira da prisão, que cuidou dela. Durante sua estadia na Conciergerie foi organizado um novo plano de fuga pelo chevalier de Rougeville, que também não foi bem sucedido. A Convenção acumulava petições pedindo a execução do ex-rainha e, em 5 de outubro, foi pronunciado um discurso contra ela, onde foi chamada "a vergonha da humanidade e do seu sexo". Em um interrogatório preliminar foi feita uma referência clara à sua acusação: alta traição. Foi-lhe perguntado se ela tinha ensinado "a arte da dissimulação" ao marido, com a qual o rei tinha enganado o povo da França; Maria Antonieta respondeu: "Sim, o povo tem sido enganado, tem sido cruelmente enganado, mas não por meu marido ou eu." A ex-rainha continuava a acreditar nos preceitos da monarquia absoluta, instituída por Deus, e de acordo com essa lógica, qualquer um que ousasse se rebelar contra ela deveria ser considerado um criminoso e ser condenado à morte. As lógicas da monarquia e da revolução eram absolutamente inconciliáveis.

Processo e execução

Em 14 de outubro, perante o Tribunal Revolucionário, Maria Antonieta foi comparada às rainhas más da antiguidade e da Idade Média. A acusação pretendia apresentá-la como responsável por todos os males da França desde sua chegada ao país. O processo baseava-se fundamentalmente em três acusações: "esgotamento do tesouro nacional", "negociações e correspondências secretas" com o inimigo (Áustria e monarquistas) e "conspiração contra a segurança nacional e a política externa do Estado". Era evidente que a ex-rainha seria julgada por alta traição.
Quarenta e uma testemunhas arroladas pela promotoria denegriram e insultaram Maria Antonieta, que foi acusada de conspiração de assassinato, falsificação de assinaturas e traiçoeira revelação de segredos aos inimigos da França. A rainha defendia-se com vigor e não constatou-se em seu depoimento nenhuma contradição. O deputado Jacques-René Hébert apresentou ao tribunal uma acusação de incesto contra Maria Antonieta que, à época, estava impedida de ver seu filho, de apenas oito anos. A ex-rainha permaneceu impassível, até que foi inquirida novamente. Visivelmente agitada, ela levantou-se e exclamou: "Se não respondo, é porque a própria natureza se recusa a responder a tal acusação feita contra uma mãe! Faço um apelo a todas as mães presentes." Maria Antonieta teve o apoio dos cidadãos da audiência e o julgamento foi interrompido por dez minutos. Quando Robespierre soube do episódio, amaldiçoou Hebert por ter dado à ex-rainha seu "último triunfo público".

Maria Antonieta conduzida ao patíbulo. Esboço de Jacques-Louis David.

Ao final do processo, a ex-rainha esperava ser condenada à deportação. Ela estava certa de não ter cometido os crimes dos quais era acusada, pois só havia tentado salvar a monarquia da forma como a compreendia; mas isso foi considerado alta traição pela república francesa. No entanto, seu julgamente era evidentemente uma farsa, pois o veredicto já havia sido decidido previamente e o júri a condenou por unanimidade à pena de morte. Maria Antonieta ouviu a sentença sem dizer uma palavra. De volta à cela, foi-lhe dado material para escrever seu testamento, enviado à sua cunhada, Madame Isabel:

"É a ti, minha irmã, que escrevo pela última vez. Acabo de ser condenada, não a uma morte vergonhosa, pois esta é tão somente para os criminosos, mas a que me juntará ao teu irmão. Inocente como ele, espero mostrar a mesma firmeza que ele em seus últimos momentos. Estou calma, como quando a consciência nada tem a condenar. Lamento profundamente deixar meus pobres filhos; sabes que eu só vivia para eles e para ti, minha boa e terna irmã. Tu, que por amizade, sacrificou tudo para estar conosco, em que posição te deixo!
Eu soube, através dos advogados de defesa, que milha filha está separada de ti. Ai de mim! A pobre criança, não me atrevo a escrever-lhe, ela não receberá minha carta. Eu nem mesmo sei se esta chegará a ti. Recebas, pelas duas, minha benção. Espero que um dia, quando forem mais velhos, eles possam reencontrar-te e desfrutar plenamente de teus ternos cuidados. Acredito que nunca deixei de inspirá-los, que os princípios e o estrito cumprimento de seus deveres são a base primária da vida, que sua amizade e confiança mútua os façam felizes.
Minha filha, por sua idade, deve sempre ajudar o irmão, inspirando-o com os conselhos de sua maior experiência e sua amizade; que meu filho, por sua vez, tenha pela irmã todos os cuidados, os obséquios que a amizade possa inspirar; finalmente, que ambos sintam que, em qualquer posição em que se encontrem, estarão felizes por sua união. Que eles nos tomem como exemplo. Quanto consolo nos dão nossos amigos em nossos infortúnios e, na felicidade, como é dobrada quando podemos compartilhá-la com um amigo; e onde encontrar mais ternura, mais bem querer que em sua própria família?
Que meu filho nunca esqueça as últimas palavras de seu pai, as quais eu repito expressamente: que ele nunca tente vingar nossas mortes! Tenho que te falar sobre algo muito doloroso para meu coração. Sei como esta criança deve te causar problemas; perdoa-o, minha querida irmã, pensa em sua idade e em como é fácil dizer a uma criança o que desejas, e mesmo assim ele não entende. Um dia virá, eu espero, em que ele se sentirá melhor e valorizará tua bondade e tua afeição por ambos. Ainda tenho alguns pensamentos para confiar-te. Eu queria escrever desde o início do julgamento, mas não me deixavam, as coisas aconteceram tão rápido que, na verdade, eu não teria tido tempo.
Morro na religião Católica, Apostólica e Romana, a de meus pais, aquela em que fui criada e que sempre professei. Não tendo nenhum consolo espiritual a esperar, sem saber se aqui ainda existem sacerdotes dessa religião, e mesmo (se existissem ainda padres) o lugar (a prisão) onde eu estou os exporia a muito riscos, se eles me falassem, ainda que fosse só uma vez. Eu peço sinceramente perdão a Deus por todas as faltas que eu cometi desde que nasci. Espero que em Sua bondade, Ele possa receber meus últimos votos, assim como tem feito a tanto tempo, porque desejo que Ele receba minha alma em Sua grande misericórdia e bondade. Eu peço perdão a todos aqueles que conheço, e a Vós, minha irmã, em particular, de todos os sofrimentos que, sem querer, poder-lhe-ia ter causado; eu perdoo todos os meus inimigos pelo mal que me têm feito. Despeço-me de meus tios e de todos meus irmãos e irmãs. Eu tive amigos. A ideia de sermos separados para sempre e suas penas são os maiores arrependimentos que carrego ao morrer; que eles saibam, ao menos, que pensei neles até o último momento.
Adeus, minha boa e terna irmã. Possa esta carta chegar até você. Pense sempre em mim. Eu te abraço de todo meu coração, assim como minhas pobres e queridas crianças. Meu Deus, quanto me corta o coração deixá-las para sempre! Adeus, adeus! Não vou mais me ocupar com meus deveres espirituais. Como não sou livre nas minhas ações, irão trazer-me, talvez, um padre, mas eu protestarei e não lhe direi uma palavra e irei tratá-lo como um completo estranho."[134]
Na manhã de 16 de outubro, Maria Antonieta, que havia sido proibida de vestir-se de preto, trajava um vestido branco (a cor do luto para as antigas rainhas de França). Em seguida, o carrasco Henri Sanson, após cortar-lhe o cabelo até a altura da nuca, amarrou suas mãos às costas. A ex-rainha foi levada para fora da prisão e colocada no carro dos condenados à morte. O esboço de Jacques-Louis David e os relatos de cronistas da época retratam Maria Antonieta durante o trajeto para a guilhotina: sentada, as mãos amarradas atrás das costas, os cabelos cortados grosseiramente, os olhos fixos e vermelhos.
Chegando à Place de la Revolution, Maria Antonieta subiu rapidamente os degraus do cadafalso. Ao pisar acidentalmente no pé do carrasco, disse-lhe: "Perdão, senhor. Eu não fiz de propósito." Às 12h15m, a lâmina caiu sobre seu pescoço. O carrasco pegou sua cabeça ensanguentada e apresentou-a ao povo de Paris, que gritava:"Viva a República!"
A "Rainha-mártir"

Túmulo de Maria Antonieta na Basílica de Saint-Denis.

Após a execução, os restos mortais de Maria Antonieta foram enterrados em uma vala comum no Cemitério de Madeleine, na rue d'Anjou. Quando a notícia de sua morte espalhou-se pela Europa, todos as cortes decretaram luto. A rainha Maria Carolina de Nápoles sofreu de maneira particular pela morte de sua irmã favorita tentando, inclusive, abandonar o idioma francês (o mais falado na época). Luís Carlos (aclamado pelos monarquistas europeus como Luís XVII) teve sua cela lacrada em 19 de janeiro de 1794, vivendo em condições desumanas em meio a detritos, ratos e parasitas, o que piorou seus problemas de saúde. Libertado após a queda de Robespierre, Luís Carlos morreu em 8 de junho de 1795. Maria Teresa, por sua vez, foi libertada em dezembro de 1795, aos dezessete anos de idade, graças à uma troca de prisioneiros entre a França e a Áustria. Em 1799, ela casou-se com seu primo, o duque d'Angoulême, mas não teve filhos. Vivendo no exílio desde a revolução de 1830, Maria Teresa morreu em 1851, em Frohsdorf. Durante o reinado de Napoleão, outra arquiduquesa austríaca viria a ocupar o cargo de soberana-consorte: Maria Luísa de Áustria.[145]
Após o período napoleônico, o Congresso de Viena levou os Bourbon de volta ao trono da França. O conde de Provença, irmão de Luís XVI, foi aclamado rei com o nome de Luís XVIII. Logo ao assumir trono, o novo soberano procurou dar um enterro digno ao irmão e à cunhada. Seus corpos foram encontrados graças ao advogado Pierre Louis Descloreaux, que vivia na rue d'Anjou à época dos sepultamentos e lembrava-se da localização da vala comum. Os restos de Maria Antonieta foram encontrados em 18 de janeiro de 1815. Embora seu corpo estivesse reduzido a uma pilha de ossos, sua cabeça permanecia intacta. Os restos do rei foram encontrados no dia seguinte. Em 21 de janeiro de 1815, vigésimo segundo aniversário da morte de Luís XVI, houve uma procissão solene até a abadia de Saint-Denis, onde os soberanos foram solenemente sepultados. Por essa época, desenvolveu-se na França o culto à "rainha mártir", para que se expiasse o pecado do regicídio e se idealizasse a vida de Maria Antonieta.
A história de Maria Antonieta fascinou outras cabeças coroadas. A imperatriz Eugênia, consorte de Napoleão III de França, lançou uma moda inspirada em Maria Antonieta e tentou encontrar objetos pessoais da rainha para a Exposição Universal de 1867.[145] Luís II da Baviera criou um culto à Maria Antonieta: mandou erguer uma estátua da rainha noPalácio de Linderhof e sempre que passava por ela, fazia uma reverência e acariciava seu rosto. Alexandra Feodorovna, última czarina da Rússia, mantinha um retrato de Maria Antonieta sobre sua escrivaninha, no Palácio de Inverno. No Palácio de Alexandre, em Tsarskoye Selo, havia uma tapeçaria de Maria Antonieta que era visto como um mau presságio. Em 1896, durante uma visita oficial à França, a czarina ficou feliz por dormir no quarto de Maria Antonieta em Versalhes, enquanto os membros de sua comitiva também viam nisso um gesto de mau agouro. O escritor e poeta Léon Bloy levou ao extremo o culto à Maria Antonieta em seu ensaio "La Chevalière De La Mort..."(1891), onde a rainha é chamada de santa. Bloy, convertendo-se em advogado de Maria Antonieta, pede o seu perdão em nome da França "Oh, mãe ultrajada (...) peço-vos, em nome do Deus Misericordioso, a graça e o perdão para este pobre povo." e conclui dizendo que, no Reino dos Céus "a esperam os fiéis principios, os desgraçados privados da consolação terrena e a falange dos mártires."
Nos últimos dois séculos a França celebrou mais de uma vez a memória de Maria Antonieta: em 1927 e em 1955 (ano de seu bicentenário de nascimento) foram organizadas exposições sobre a rainha em Versalhes; em 2008, outra exposição, com pinturas e objetos, teve lugar no Grand Palais. Hoje, Maria Antonieta também é considerada um ícone gay e, embora especula-se que sua relação com a duquesa de Polignac fosse sentimental e não sexual, este tributo do mundo LGBT, segundo a historiadora Antonia Fraser, compensa os insultos vulgares de seus contemporâneos. Protagonista de ensaios, filmes, histórias em quadrinhos e desenhos animados, Maria Antonieta, por um lado, é amada por sua vida romântica e trágica, por outro, continua a ter seus detratores. Em 17 de julho de 2008, quase 215 anos após sua morte, o ministro do exterior francês Bernard Kouchner, em nome da França, desculpou-se oficialmente com a Áustria pela execução de Maria Antonieta.[156][157]

A relação com Luís XVI

Luís XVI, aos vinte anos de idade, por Joseph Duplessis, no Palácio de Versalhes.
Apesar de terem sido completamente diferentes, tanto no comportamento quanto no físico, o casamento entre o rei e a rainha da França foi descrita como agradável e feliz. Em geral, a "covardia física" de Luís XVI e a "preguiça de alma" de Maria Antonieta eram suficientes para evitar atritos entre ambos. A única sombra que pesava sobre a vida do casal foi a não consumação do casamentoem seus primeiros sete anos. Esse doloroso fardo exibido pelos cônjuges diante de toda a corte que, à época, debochava dos insucessos sexuais do casal, deixou uma marca indelével. Não sendo capaz de satisfazê-la sexualmente, Luís XVI permitiu que Maria Antonieta se entregasse ao luxo e aos prazeres frívolos. Havia, entretanto, muitas ações e comportamentos da esposa que contrariavam o rei: suas vultosas despesas consideráveis​​, suas amizades, o excesso de festas, entre outros. Maria Antonieta, no entanto, conseguia tudo o que exigia do marido (exceto na política), que tinha uma complacência ilimitada nos confrontos com a esposa, como a pedir desculpas por seus pecados, que o faziam sofrer tanto.
A aquiescência do marido nos confrontos faziam a soberana sentir-se superior a ele. Além disso, durante anos, a imperatriz Maria Teresa e o embaixador Mercy exortavam Maria Antonieta a conquistar uma certa ascendência sobre o marido, para manobrá-lo a favor da Áustria, algo que, no entanto, não aconteceu. Mesmo Choiseul, com intenções muito diferentes daquelas da imperatriz e do embaixador, teve a audácia de aconselhar a rainha a usar "a doçura para conquistar o rei e o medo para subjugá-lo." Todos esses episódios fizeram Maria Antonieta pensar que era realmente superior ao marido, que não amava e cuja falta de jeito no amor era para ela fonte de constante humilhação. A rainha chegou ao cúmulo de chamá-lo de "aquele pobre homem", em carta enviada à mãe pouco antes da coroação de Luís XVI.
A relação com o conde Fersen

Diversos panfletos contrários à Maria Antonieta atribuíam-lhe inúmeros amantes, tanto homens quanto mulheres. Porém, a única relação plausível, platônica ou física passível de ter existido seria com o conde sueco Hans Axel von Fersenque, no entanto, nunca foi mencionado em nenhum dos famosos panfletos. Fersen, segundo filho de um destacado diplomata sueco, tinha dezoito anos quando conheceu Maria Antonieta, em um baile de máscaras. Desde então, o conde passou a visitar Versalhes regularmente, onde era recebido com especial cortesia, mas não mencionou em seu diário com a então delfina, que empenhava-se na montagem de Iphigénie en Aulide, de Gluck. Em 12 de maio de 1774, dois dias após a morte de Luís XV, Fersen partiu para a Inglaterra, interessado em contratar um casamento com uma herdeira. Malogrado esse possível casamento, Fersen decidiu, em 1778, dedicar-se à vida militar e, como seu pai tivesse servido na corte de Luís XV, o conde tentou a sorte com Luís XVI. Em 25 de agosto, a rainha reconheceu entre as várias pessoas que lhe eram apresentadas, o jovem que conhecera quatro anos antes. Fersen começou a frequentar a corte e o carinho entre ele e Maria Antonieta, então grávida da Madame Royale, tornou-se evidente e no palácio começou a espalhar-se maledicências sobre a inclinação da soberana pelo conde. Este, apesar dos favores de que gozava, pretendia perseguir suas ambições militares e resolveu embarcar para a América e combater na Guerra de Independência Americana, que contava com o apoio francês, retornando a Versalhes somente quatro anos depois, em 1783. Todos os possíveis casamentos de conveniência foram deixados de lado e Fersen declarou, em carta à irmã, que jamais iria se casar porque nunca teria a única mulher que realmente desejava, Maria Antonieta. A rainha conseguiu que Luís XVI criasse o regimento dos Suédois Regals (Suecos Reais) e, desde 1785, Fersen fixou-se permanentemente na França. Permaneceu ao lado da família real até a revolução e teve um papel fundamental nos preparativos para a Fuga de Varennes.

Preservação da Memória
Quando ocorreu a restauração da monarquia e da dinastia dos Bourbon na França, após a derrota de Napoleão, o reiLuis XVIII, cunhado de Maria Antonieta, transferiu seus restos mortais para a Basílica de Saint-Denis, perto de Paris, local de sepultura dos reis franceses. Por ordem dele foram erguidas duas capelas: a primeira, na Praça Luis XVI, foi projetada como um mausoléu e marcou o lugar onde os restos mortais de Luis XVI e Maria Antonieta foram originalmente enterrados, chamada de Chapelle Expiratoire, hoje um monumento nacional da França. A segunda capela foi erguida na cela de Maria Antonieta na Conciergerie, onde, na parede estão escritos os nomes dos três mártires reais: Luis XVI, Maria Antonieta e Madame Isabel. Há também, nesta capela, a transcrição de um trecho do testamento de Maria Antonieta, no qual ela lembra, aos filhos, o que disse seu esposo Luis XVI, sobre perdoar a todos por todo o mal que fizeram à sua família.

Representações na cultura

Literatura
·                     Maria Antonietta - Giacomo Leopardi (1816)
·                     Cinco romances de Alexandre Dumas, pai, que compõem a série "Memórias de um Médico":
·                     Le Chevalier de Maison-Rouge (1846)
·                     Joseph Balsamo (1848)
·                     O Colar da Rainha (1850)
·                     Ange Pitou (1851)
·                     A Condessa de Charny (1855)
·                     Les Adieux à la Reine - Chantal Thomas (2002)
·                     The Hidden Diary of Marie Antoinette - Carolly Erickson (2005)

Notas
1.            Na educação que recebeu, Maria Antonieta nunca foi incentivada a concentrar-se nas aulas. Esta capacidade, geralmente fácil de desenvolver nas crianças, era completamente ausente na arquiduquesa quando adulta; algo notado até mesmo por seus admiradores. (Fraser, p. 43)
2.            A relação de Maria Antonieta com sua mãe, sempre envolvida nos assuntos de Estado e afastada dos filhos menores, não era muito profunda. Já na idade adulta, ela dizia: "Eu amo a Imperatriz, mas a temo mesmo à distância. Quando lhe escrevo nunca me sinto suficientemente confortável." (Fraser, p. 32)
3.            A Imperatriz acolheu o tutor de sua filha como um de seus amigos mais próximos e convenceu-o a tornar-se seu espião, para controlar os passos da jovem arquiduquesa na França. Maria Antonieta jamais suspeitou que era traída por seu confidente. (Lever,p. 23-24)
4.            Também era comum tratá-la pelo trocadilho "L'Autre-chienne", uma paronomásia em francês das palavrasautrichienne, que significa "mulher austríaca" e autre-chienne, que significa "outra cadela". (Castelot, p. 233)
5.            Os condes d'Artois consumaram o casamento na mesma noite, enquanto os condes de Provença nunca o consumaram. (Fraser, p. 110-112)
6.            A frase foi escrita por Rousseau no livro Confissões, em referência a um evento ocorrido em 1741, quando Maria Antonieta ainda não era nascida. (Lever, p. 422-423)
7.            Em carta ao rei Vítor Amadeu III da Sardenha, o embaixador em Paris informou que a rainha estava tornando-se impopular e que era acusada de "não amar o povo francês." (Lever, p. 154-156)
8.            Henri Louis de Rohan, príncipe de Guéméné era um homem influente na corte de Luís XVI. Rico e bem relacionado, recebia empréstimo de vultosas quantias de dinheiro em troca de sua influência junto ao governo. Em 1782, após acumular uma dívida de 33 milhões de francos, o príncipe foi obrigado a pedir falência. (Erickson, p. 196-197)
9.            Era voga no século XVIII a construção de vilas semelhantes ao Hameau de la Reine e Maria Antonieta, a exemplo de muitos nobres da época, não era imune aos modismos. Tal extravagância era vista com naturalidade quando executada por um conde ou um príncipe mas, por tratar-se de uma importante figura pública, a rainha foi alvo de críticas impiedosas. (Fraser, p. 231)
10.        "Eu sei que, especialmente na política, eu tenho muito pouca influência sobre os pensamentos do rei. Seria prudente de minha parte fazer uma cena com seu ministro sobre assuntos que, certamente, o rei não me apoiaria? Sem qualquer ostentação ou mentiras, faço os outros acreditarem que tenho mais influência do que realmente tenho porque, se não os fizesse pensar assim, eu teria ainda menos." (Lever, pp. 214-215)
11.        Havia muitos anos que Boehmer vinha propondo à rainha a compra de uma peça de grande valor, inicialmente feito para a Madame du Barry. Maria Antonieta, que não desejava comprá-lo, respondeu: "Se tivesse esse dinheiro para gastar iria preferir melhorar minha propriedade em Saint-Cloud." (Fraser, p. 252-253)
12.        Em 1772, quando Maria Antonieta ainda era delfina, o cardeal de Rohan foi nomeado embaixador em Viena e ridicularizou a imperatriz Maria Teresa: numa carta que circulou em Versalhes, o cardeal chamou de "hipócritas"as lágrimas derramadas pela imperatriz da Áustria durante a partição da Polônia. Desde então, a jovem Maria Antonieta decidiu não mais falar com ele. (Lever, pp 86-87)
13.        Maria Antonieta creditava o pesado fardo que carregava à fraqueza do marido. "Meus dias felizes se foram desde que fizeram de mim uma 'intrigante'", disse ela, à época, à sua camareira, Madame Campan. (Haslip, p. 218-220)
14.        A pintura não teve boa sorte, apesar da grande semelhança. Na verdade, Madame Sofia, a filha mais nova de Maria Antonieta, morreu antes da primeira exposição e teve sua imagem retirada do quadro; a saúde do delfim piorava cada dia mais, enquanto as outras crianças cresciam fortes e saudáveis. No final de agosto, a pintura deveria ser oficialmente apresentada naAcadémie Royale, mas a impopularidade da rainha havia crescido a tal ponto que temia-se por manifestações. No salão, à moldura vazia, alguém anexou a seguinte nota:"Olhe para o déficit" - referência ao novo apelido dado à rainha, Madame Déficit. (Fraser, p. 284)
15.        Viagens misteriosas de vários amigos de Maria Antonieta a Londres - como o abade Vermond, a duquesa de Polignac e a princesa de Lamballe - aumentaram os rumores de que a rainha enviava emissários para negociar com a condessa de La Motte a restituição de cartas comprometedoras. (Lever, p. 255)
16.        Ela foi comparada a MessalinaBrunilda da Austrásia,Fredegunda e Catarina de Médici.[123]
17.        Segundo um de seus advogados, ela "não mostrou nenhum sinal de medo, indignação ou fraqueza." (Lever, p. 402)